choques de realidade

O dia começou normal: acordar cedo, ir trabalhar, correr para pegar o ônibus e estar às 13:15 na rua onde a van me busca para ir à faculdade. Tirando o imenso frio que eu estava sentindo, porque hoje pela manhã estava congelante, seria mais um dia comum na minha vida.

Enquanto eu estava na parada de ônibus aguardando para ir ao encontro da van, havia um senhor, morador de rua, deitado no chão. Fiquei o observando por algum tempo e depois voltei a me fechar no meu mundinho de espera, olhar no relógio, ir até a beira da faixa ver se o ônibus está vindo... Quando estava sentadinha no meu lugar, o senhor se levanta, pega seus pertences e senta-se ao meu lado. Voltei a prestar a atenção nele, mas dessa vez com olhos diferentes, veio a minha memória uma fala de Jesus: "sempre que fizeres a um doa meus pequeninhos a mim o faz"... nesse instante a parada já estava com um número considerável de pessoas, fiquei pensando nisso e lembrei que eu tinha um pacote de bolacha integral e uma bana na minha bolsa, seria o meu lanche no intervalo dos turnos que tenho. Meio que sem pensar muito eu perguntei ao senhor se ele já havia almoçado, acho que peguei todo mundo de surpresa, as pessoas que estavam na volta e o próprio senhor. Sua resposta foi meio óbvia né, então eu lhe alcancei o meu lanche, não era uma super refeição mas era o que eu tinha no momento. O senhor não sabia nem como abrir o pacote de Clube Social (não estou ganhando nada para dizer o nome do biscoito! hehehehehe...), ajudei-o nessa "árdua" tarefa. Ele agradeceu, comeu e depois quis conversar comigo, perguntando se eu trabalhava ou estudava... disse a ele que estava indo para a faculdade e me surpreendi quando ele perguntou quantas cadeiras eu estava fazendo. Enfim o meu ônibus chegou eu me despedi e fui para aula.

Fiquei o dia inteiro pensando nisso, pensando o meu Jesus se comparada com aquele senhor, que Ele se compara com inúmeras pessoas que vivem uma vida subhumana... foi estranho tentar ver Jesus naquele senhor, Ele estava ali, acho que são nessas situações que percebemos que a sabedoria de Deus é loucura pra nós. Eu não fiz muito por aquele senhor, na verdade, em uns quarenta minutos ele estaria com fome novamente e com frio porque ele estava com pouca roupa.

Se fizeres alguma coisa... faz pra mim. Jesus espera que seja feito alguma coisa por esses que Ele tanto ama. Jesus se esvaziou até a morte para que TODOS fossem resgatados, Jesus também soube o que é miséria... Ele mesmo disse aos discípulos que não tinha onde reclinar a cabeça a noite. Com esse fato em minha vida eu me lembrei de uma canção que fala sobre isso, quero compartilhar com vocês.

Ainda pensava sobre essas coisas no fim da noite, voltando para casa  comecei a ler um artigo de uma das disciplinas de e me deparei com esse parágrafo:

"A miséria moral dos abastados, “vestida” com seus mais belos or na men tos e, por tanto, bem me nos visível do exterior, é paradoxalmente mais perniciosa que aquela que afeta os indigentes: à obsessão propriamente patológica do mais-ter, ao desejo incessante de acumular para si e de retirar dos outros pelo simples prazer de exercer sobre eles um poder acrescentam-se fatores externos, tais como os muitos critérios de êxito social, a impiedosa dinâmica da competição, a regra de ouro do lucro a qual quer preço ou a mercantilização de todas as relações humanas. É a miséria psíquica e espiritual dos saciados que produz no outro extremo da cadeia a miséria material dos excluídos, pois, numa sociedade que pensa que a vida é um com bate e a morte, um fracasso, o remédio para a depressão psíquica é a excitação cujo exemplo é fornecido pela especulação da bolsa de valores. Essa dupla miséria é exacerbada pela publicidade, que é um meio de deixá-lo descontente com o que temos para fazer com que desejemos aquilo que não temos."

"O decrescimento como condições de uma sociedade convivial"

Serge Latouche - ano 4 - nº 56 - 2006 

Esse texto é muito legal! O tema decrescimento é algo muito interessante, deixei o link para quem quiser dar uma olhadinha. ^^ Jesus conhece a verdadeira miséria do homem, de estar longe dEle. Ele não olha para o não ter roupas ou dinheiro, Ele não olha o quão suja pode estar sua pele, mas Ele, mais do que ninguém, se preocupa com o seu coração, se preocupa com a sua alma e com o futuro dela na eternidade. Ele compara-se com os excluídos porque eles tem a mesma carne que qualquer pessoa, elas são feitas do mesmo material que um presidente da república.

Ai tenho tanta coisa para escrever sobre isso e sobre o que vai no meu coração, mas vou deixar para falar melhor nas próximas postagens porque ainda estou digerindo esses últimos acontecimentos.