Oi gente!
Escrevi este texto a pedido de uma amiga queridona do curso do Jornalismo para a estreia de uma das colunas do seu blog. Fiquei feliz com o pedido e ansiosa também, não sabia bem o escrever a partir da sua demanda. Mesmo não sendo nada objetiva, gostei do produto final e não poderia deixar ela postar no seu espaço e não colocá-lo aqui também, com pequenas correções, mas basicamente é o mesmo texto. Espero que gostem. ^^
Não deixem de conhecer o espaço da Jacke: umtantoemeio. =]
Saúde é vida e vida, entre muitas
coisas, é pertencimento. Pertencer é fazer parte de algo ou alguém, todo mundo
quer ser alguém em algum lugar e isso é fazer parte de algo, é pertencer a si e
ao mundo, ou a uma parte dele. Mundo, um
lugar diverso e complexo, cheio de cenas e atores, tudo muito dinâmico em
constantes modificações. Existe muita vida dentro de cada cenário deste
planeta, alguns cheios de cores, em que muitos querem pertencer, contudo, há
também aqueles em preto e branco a qual poucos pertencem não querendo
pertencer, quem quer?
Na adolescência comecei abri os
olhos para alguns quadros cinzentos, os primeiros foram lá pelo continente
africano, com as criancinhas e senhoras sozinhas, órfãos com fome esquecidos…
queria ter uma caixa de lápis de cor para colorir, cores que trouxessem muita
vida, esperança e fé. O tempo me mostrou o quão difícil pode ser levar minha
caixa de lápis de cor à África, isso demandava muitas competências que na época
eu não conseguia pensar em ter, de qualquer forma o desejo era grande, eu
queria muito colorir!
Quando estava ponto de guardar meus lápis e pensar em
outra coisa pra fazer olhei pro lado, e percebi que bem aqui do meu ladinho
(quem diria?) existiam também cenários cinzentos, às vezes tão escuros que mal
se conseguia definir os contornos, era tudo um borrão, uma grande colisão de
solidão, descaso e tristeza.
Gostaria de expor um devaneio,
algo que me tirou uma noite de sono pensando, mas que explica muita coisa do
que sinto e vivo há alguns anos em minha vida de jovem adulta (ou velha
adolescente…). Esse devaneio chama-se Relação com efeito palpável: se você
observar uma bolha de sabão perceberá sua beleza, cor, formato e movimento. Se
tocar nela terá estabelecido uma relação, sem muito efeito porque ao término do
toque haverá tido uma pequena sensação no seu dedo com o fim da frágil bolha.
Em outra situação se você entrar
em uma sala repleta de bolhas de sabão a dinâmica será totalmente diferente!
Você não somente observa as bolhas, como as sente em todas as partes possíveis
para sentir no momento. Chamo de efeito palpável o resultado dessa relação já
que mesmo ao sair dessa sala muitas bolhas deixaram de ser, você estará molhado
e com cheiro de sabão. Houve uma reação que foi além da observação e
contemplação (achar bonito e legal); ocorreu uma integração onde se permitiu a
criação de marcas, sensações e significados.
O efeito palpável de uma relação
são as ações que demonstram se você pertence ou não há alguma situação, se você
concorda ou não com o que está vendo. Posso estar imerso em uma cena totalmente
colorida, o quanto eu me disponho a colorir outros espaços? Bom, isso depende
de quantos espaços cinzentos eu conheço, porque mesmo que eu tenha apenas uma
cor de lápis no meu estojo, ela já vai ter um efeito na dinâmica monocromática
do lugar.
O motivo de eu estar falando tudo
isso foi porque eu percebi que posso colorir muitos espaços, não porque eu
toquei em uma bolha, mas porque entrei numa sala repleta de bolhas, que gerou
em mim marcas, as quais eu não posso, nem quero abrir mão.
Falando mais especificamente
sobre saúde, compartilho com vocês algumas realidades: acompanhar os veículos
de comunicação, suas notícias sobre o SUS _Sistema Único de Saúde, é tocar uma
bolha; ler artigos científicos sobre saúde é tocar em outra bolha; conhecer o
SUS, seus princípios e diretrizes e achar o projeto “uma coisa bacana” (que é
lindo no papel) ou reclamar dos serviços de saúde, sem conhecer sua rotina e
suas dificuldades são outras bolhas.
Quantas bolhas isoladas as
pessoas conhecem por ai, e muitas vezes essa observação sozinha faz quantas
caixas de lápis serem guardadas em gavetas da mente e sonhos ou menosprezadas
por palavras pessimistas e ações destrutivas. Agora, permitam-se entrar em uma
realidade diferente da sua para ouvir seus sujeitos, suas histórias. Deixe que
seus pés pisem em um chão nunca pisado antes, senta o sol num horário nunca
antes tentado, abra os olhos para as muitas caixas de lápis fechadas por não
saberem o que fazer com esses instrumentos, tendo tanta coisa a ser feita com
eles, tanto a colorir!
Permitir-se viver o que nunca
antes foi vivido é adentrar numa sala repleta de bolhas, todas aquelas que
mencionei antes e muitas outras ainda desconhecidas, que te deixarão molhado,
até mesmo encharcado de saberes, sentidos e significados. Tudo isso é uma breve
simbiose que te deixa com um sentimento de pertencimento, mesmo que você ainda
não saiba como quer fazer parte dessas pessoas, nesses lugares.
E o VER-SUS nisso tudo? Um
projeto disparador que se equivale à porta para a sala de bolhas do SUS. Esse
espaço vai te deixa molhado, querendo pertencer a tantas realidades e mostrar o
potencial da sua caixinha de lápis de cor, ou quantas caixinhas podem ser
formadas com as cores que cada um tem, e quantas realidades podem ser pintadas
com o empenho de todos os lápis juntos.
Eu não me esqueci dos grandes
cenários cinzentos do mundo, ainda quero poder pintar alimento nos pratos e
sorrisos nos rostos de crianças africanas. Hoje, tenho conhecido pessoas que
assim como eu estão encharcados de desejos e sonhos, temos iniciado a
realização deles através do ELOS Coletivo, espaço de aprendizagens,
compartilhares e muita vontade por mudanças. Entendo que tudo o que esse
estágio de vivência me proporcionou é cidadania, que são ações de educação, que
geram saúde e saúde é vida… que é pertencimento.
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