01 novembro 2011

A vida entre jardins


Como é bom estar aqui novamente. Todos os dias tenho um motivo para escrever, infelizmente o tempo não me permite estar aqui sempre que o Senhor me inspira com algum assunto, mas vontade não falta para investir pelo menos duas horas por dia nesse exercício tão gostoso! O texto que posto aqui hoje não foi ideia minha, foi através de uma pregação de uma maninha carioca muito querida, que teve a edificante iluminação do Espírito, que pude escrever este texto. Quando estava a caminho da universidade na van as ideias começaram a brotar na minha mente e, entre um pulo e outro pelos inconformidades da estrada, consegui escrever em garranchos o que coloco aqui. Foi muito bom ter escrito e ao ler no final louvei muito a Deus pelo seu imenso amor!

Lembro-me de um jardim... um lindo e colorido jardim, regado e adubado com amor e paz. Era tudo tão tranquilo, tão verdadeiro e o melhor de tudo é que Ele estava lá! Todas as tardes eu tinha a certeza de ser pleno porque Ele era tudo em mim. A essência que havia em mim vinha dEle e de um jeito único éramos totalmente conectados. Eu não tinha medo de nada e por que teria? Esse jardim era tão seguro que não tinha necessidade de preocupação ou ansiedade. Nossa, eu era mais que feliz!

Até que o pior aconteceu, um erro cometido foi o suficiente para que hoje eu estivesse nesse sol escaldante queimando minha pele. Não foi algo complexo, mas foi o maior erro da minha vida. Jamais pensei que houvesse algo pior que a morte física: sede constante, dúvidas e trabalho, muito trabalho! Não como eu o tinha no jardim, algo que me dava prazer e grandes resultados, hoje, suo muito e ganho pouco, quase nada. Por que esse calor tão grande? Quem colocou esses abrolhos aqui? As coisas estão cada vez mais difíceis, falam em guerra por poder, contendas, facções... estou com tanta saudade da brisa fresca da manhã, dos pôr-do-sol ao lado dEle, onde Ele estará? Eu o afastei de mim e agora tenho um vazio imensurável... quem sabe vou procura-lo? Quem sabe Ele estaria em outro jardim me esperando? Que loucura pensar isso! Ele deve estar decepcionado, magoado, afinal, eu troquei toda uma vida com Ele por um desejo que se resume em uma mordida. O que fazer? Acho que seria bom me desculpar... dizer que sinto pelo que fiz,  que entendo ter perdido tudo o que de mais especial tinha e que não sou digno mais de viver naquele jardim perfeito. O que tenho a perder? Vou procura-lo.

Estou caminhando há dias e nada! Já fui a tantos lugares, por inúmeros jardins passei; perguntei para algumas pessoas que por sua vez me deram muitas referências, ouvi dizer até que deveria procurar o jardim dentro de mim, todavia, nenhum se comparava aquele e em nenhum Ele estava... Mais uma noite chegou, está tão frio, acho que vou desistir. Procuro então, entre as oliveiras, um lugar para descansar a fim de esperar a noite passar e voltar para casa. Que gemidos são esses? Há mais alguém nesse lugar tão deserto? Escondo-me entre os arbustos para ver, é um homem, está tão concentrado ali ajoelhado, deve estar pensando em algo importante. Por que ele está aqui a essa hora e por que me parece tão familiar? “Contudo seja feita a tua vontade...” com quem ele está falando? Conheço essa voz de algum lugar... de repente passos fortes rompem o silêncio, soldados vem buscar este que parece a pessoa mais diferente que eu já vi. Segui-os e deparei-me com cenas horríveis: o bateram, espancaram, cuspiram em sua face e ele não revidou, tentei fazer algo, mas havia muita gente aglomerada, expectadores dessa tortura, não podia chegar perto.

Estar perto desse homem traz-me antigas lembranças, estou tão confuso... NÃO! Colocaram-no cruz, por que tanto? Será que ele errou tanto quanto eu? Ele fala com o “seu pai” e em um dado momento seus olhos encontraram os meus e, instantaneamente, algo começa a mover-se em meu interior. As coisas começam a tomar um sentido compreensível... através desses olhos contemplo os olhos dEle... como isso é possível? Seria Ele o seu pai? Seu último suspiro foi meu primeiro respirar verdadeiro em muito tempo, o pai dele sim é Ele, que estava comigo naquele jardim e que misteriosamente está aqui agora! Acretido nesse homem, descobri que estávamos em um jardim na noite em que o pegaram... que naquele lugar foi o início da sua morte e vejo agora que o início da minha vida... que loucura! Quero agora somente esperar o próximo pôr-do-sol.  

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Carlos Drummond de Andrade